sábado, 11 de abril de 2009

Sonho afogadense


Não é de hoje que um mandato de vereador em Afogados da Ingazeira fascina meio mundo, que o diga Erickson Torres, recordista em mandatos consecutivos e pedidos de explicação e providências ao executivo que via de regra nem explica e tampouco providencia.

O barbeiro Elesbão também acalentava este sonho.
Inúmeras vezes foi candidato e como muitos fazia sua campanha populista ao seu modo, ou seja, cortando cabelos de graça, mas nunca passou de último suplente, uma única vez.

Numa dessas eleições também foi candidato Antônio Izidio, vice-rei do Bairro da Ponte e do Costa e discursador oficial em todos os sepultamentos daquela época no São Judas Tadeu.

Quem como eu tem mais de 50 janeiros, boa memória e foi a algum enterro na juventude, deve lembrar daqueles discursos pomposos onde ele citava inclusive as moedas para pagar ao barqueiro Caronte, pela travessia do rio Letes, o rio do esquecimento, que ficava na entrada do Hades, o reino dos mortos, segundo a mitologia grega.

Quando digo que Afogados já foi mais culta, tenho minhas razões.
Mas voltando à eleição para vereador:

Elesbão era mais uma vez candidato e Antonio Izidio iria estrear na politica afogadense com tesão de noivo e confiança em seus discursos rebuscados.

Na véspera do pleito, Antonio Izidio foi à barbearia de Elesbão para barba e cabelo e lógico, dedos e mais dedos de prosa boa pois eram amigos muito chegados.

Ao chegar encontrou Elesbão terminando de cortar o cabelo do filho mais velho de João Limeira que na época deveria ter uns 12 ou 13 anos e tinha o vício de observar e escutar.

Terminado o corte, o menino ficou por ali folheando revistas O Cruzeiro de meses passados e de ouvidos antenados.
Antonio Izidio sentou na cadeira, Elesbão lhe colocou os paramentos e começou a preparar a navalha Solinger e a espuma Bozzano. Enquanto isso começa o bate-papo:

Disse Elesbão - Veja só Izidio, estou sabendo que você é candidato também e queria lhe fazer uma proposta.

Responde Izidio - Se a proposta for boa...

Elesbão - Pela lei eleitoral, o candidato não pode votar nele mesmo e nem a esposa pode votar no marido senão o voto é impugnado pelo Doutor Demócrito.

Izidio resmunga - Tá danado! E eu mais Orora (Aurora) vamos votar em quem? Vamos perder os votos?

Elesbão dá a solução - Vocês votam em mim e eu e minha patroa votamos em você e assim o Doutor não impugna voto nenhum.

Izidio desconfia - Mas isso é certo mesmo?

Elesbão responde - Se não acredita, pode ir perguntar ao Doutor Demócrito.

Izidio se rende - Precisa não, o doutor pode se aborrecer, estamos combinados.

Passada a votação, as urnas são todas depositadas no ACAI, sob guarda da policia para apuração no dia seguinte.

Concluída a apuração, Antonio Izidio não teve um voto sequer e indignado se encheu de coragem e foi perguntar ao Doutor Demócrito sobre a tal proibição de candidato votar em si mesmo e esposa votar no marido.

Depois da explicação do juiz, Elesbão que teve 4 votos e não pegou nem mesmo suplência, perdeu o freguês e o amigo e encerrou sua "carreira politica".

Texto do Advogado Gilberto Moura

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