Por Gilberto Moura (Advogado)
Certa feita, em viagem de férias a Pernambuco acompanhado de meus filhos, então pequenos, depois de três pernoites e 2600 quilômetros de buraqueira, enfim cheguei à casa da parentada mais morto que vivo, mas contente, pois tinha pela frente 15 dias de vadiagem da mais alta qualidade.
Acomodei as crianças e antes de tomar um banho fui ao boteco de minha estimação para um gole de pinga boa e uma cerveja pra espalhar o sangue.
Estava lá de prosa quando chega um conhecido, também advogado, que me chama num canto e pede para falar comigo mais tarde, coisa importante diz ele com a voz rouca, quase incompreensível.
Expliquei onde estava "arranchado" e marquei para as 8 da noite, pois ele chegou 7:30 com as cópias de um processo criminal e foi logo abrindo o jogo:
- Preciso que você me ajude, faça essa defesa oral para mim. O Tribunal está fazendo um júri atrás do outro e eu atuei em 2 seguidos e já estou sem voz para debater e sem argumentos para esse caso, o sujeito matou por vingança de uns tapas que levou da vítima e vai pegar uns 30 anos mais as qualificadoras.
Tentei tirar o corpo fora mas não foi possível, falei pra ele arranjar um atestado médico e adiar o júri, ele disse que se fizesse isso o cliente ia ficar preso mais um ano pois só seria julgado na temporada de júris do ano seguinte. Resumindo, resolvi ajudar o colega a descascar o abacaxi.
Fiquei com as cópias do processo para estudar e marcamos de ir ver o preso pela manhã. Lá chegando ouvimos a versão dele da história e fiquei apavorado, o danado se vangloriava abertamente de ter mandado a vitima pras calendas. Então passei a aconselhar quanto ao comportamento durante a sessão, ou seja, tratar juiz e promotor de excelências, cabeça e voz baixas, ar de arrependimento, etc.
No dia seguinte foi o julgamento.
No interrogatório ele se comportou muito bem, falou de sua vida de homem honesto, trabalhador, pai de família, etc.
Nas perguntas do promotor também, fiquei animado achando que o representante da acusação tinha "comprado" e realmente tinha a história de bom mocismo.
Na pergunta final, o promotor, talvez querendo facilitar a atuação da defesa e a vida de pessoa tão boa, perguntou:
- Senhor Fulano de Tal, o senhor se arrepende de ter matado o senhor Sicrano?
O danado respondeu, quase gritando:
- Olhe excelência, eu nunca pensei em matar ninguém na minha vida, mas se aquele cabra safado nascer de novo e bater na minha cara outra vez, eu mato!
segunda-feira, 20 de abril de 2009
No Tribunal do Júri com um Réu Enfezado
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