terça-feira, 12 de maio de 2009

Zé Fidélis e a fossa de Moacir Queiroz

Cidade pequena é a peste pra viver de gambiarra, feito casa de gente pobre naqueles morros no Rio de Janeiro, construídas de tábuas de embalagens de bacalhau. Os casebres fedem mais do que aquelas fateiras que passam trinta dias sem lavar o cedém.

Mas esquece o Rio de Janeiro que aqui também tem casa de taipa que só a gota serena! O tal do bicudo vadeia nas costas das veias quando vão drumi após umas tragadas gostosas num cachimbo rústico e mal lapidado; geralmente comprado em bancos de feira.

Certa feita Zé Wilson do Gelinho foi contratado para limpar uma fossa de Moacir Queiroz Leite, comerciante bastante conhecido na cidade. Se fosse numa cidade grande, o trabalho seria executado por um motorista, dois técnicos de maquinário, profissionais desentupidores, vestidos de forma padronizada, usando macacões, luvas, botas, e tudo mais...

Como aqui tudo é no jeitinho brasileiro, os caras limpam fossas descalços, nus da barriga pra cima e sem nenhuma proteção, desgotam tanques que retêm bostas, recebem esgotos, dejetos, águas servidas e mijo de toda cor, verde, amarelo, cinza e pingado... Ah, mais para eles é uma baita festa. Cada um é feliz com o que tem. Tem gente que mesmo tendo, vive numa tristeza infernal dando coice em todo mundo. É uma infelicidade!

Quando destampou a lage da dita cuja, Gelinho levou logo um supapo no pau da venta que quase caiu de costas com o fedor de bosta do ricaço da época. Logo merda de rico fede mais do que a de pobre, não sei se é porque eles só comem besteira, ou o intestino não trabalha bem como os dos pobres. Menino novinho de roça come até besouro rola bosta e não tem uma dor de barriga, mas menino de rico se levar um pingo de chuva, minha nossa, fica resfriado. Ô frescura!

Dois companheiros auxiliavam Zé Wilson na triste tarefa, Gil Gomes e Zé Fidélis, do Bairro São Brás, o primeiro já falecido, o segundo irmão do finado Nenê Grude, um grande admirador do ex-deputado Antonio Mariano. Gil Gomes timbugou na merda e ficou dentro da fossa enchendo as latas e entregando a Zé Fidélis na parde de cima. Gelinho apenas coordenava os trabalhos e se resguardou a tomar todas, melou o bico, mas bem devagar. Já os seus ajudantes se excederam na branquinha e ficaram chapados. Na vigésima lata de bosta, Zé Fidélis não fazia mais um quatro e começou ficar pra lá e pra cá na beira da fossa, parecia vara de bambu.

Gil Gomes também baleado pela Pitu já tava com a cara toda coberta de merda. Enquanto descascava uns cocos Zé Wilson se descuidou dos ajudantes e entertido no vai e vem da faca, ouviu aquela coisa borbulhando e correu assustado pra ver. Meu amigo, quando chegou à fossa, notou que Zé Fidélis tinha caído de cabeça e tava com os pés pra cima, plantando bananeira, e Gil Gomes estava boiando de focinho pra baixo.

Gelinho se aperreou pulou na piscina e salvou os dois sujeitos que estava com o rabo cheio de cachaça. Pra terminar a história deitou os camaradas no chão de papo pra cima e quando apertou na barriga de Fidélis subiu uma goipada de merda que foi bater na cara da empregada que estava ao lado rindo dos pé inchados. Depois de algumas horas eles retornaram, mas estavam com merda até nos ói. E o pior é que a bicha secou e deu um trabalho desgramado pra tirar. O cabelo de Zé Fidélis ficou mais duro do que o de Dedeu Bola cheia e do pintor Zé Rolinha. Quando ia saindo da casa Gil Gomes foi cobrar o serviço a Zé Wilson aí Zé Fidélis gritou:

- Eita fedor de merda da porra Gil Gomes fecha essa matraca!

Aí Gelinho retrucou:

- cala a boca Fidélis a tua tá fedendo mais do que a dele.

Fidélis que de besta na tem nada, cobrou de Geladinho:

- Então leve a gente lá em Chico Cotó enfermeiro pra ele fazer uma lavagem no estombo da gente!

Esta história é verídica. Zé Wilson do Geladinho já não está mais entre a gente mais deixa esta lembrança para os leitores do Causos & Contos.

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