quinta-feira, 28 de maio de 2009

As muriçocas do soldado Biró


Soldado Biró é uma figura bastante conhecida na cidade de Serra Talhada. Ele trabalhou muitos anos na sede14° BPM – Batalhão Coronel PM Manoel de Souza Ferraz, tanto que acabou se reformando na unidade há pouco mais de três anos. É um desses camaradas cheio de macaquice, quem trabalhou com ele é testemunha disso. Cheguei à referida OME em junho de 1997. Meio acanhado e sem conhecer nenhum companheiro no primeiro dia dei logo de cara com o dito cujo, varrendo o Corpo da Guarda, com um cigarrão daqueles do Paraguai no bico. Um pé no coturno, outro numa sandália havaiana, o cabelo grande feito à peste e a sobrancelha assanhada. Vez por outra passava um companheiro e o cumprimentava: - fala Biró! Fiquei pensando comigo mesmo:
- Oxente, que nome mais feio pra um guerreiro? O pé de bomba respondia numa animação tremenda, o sorriso com os dentes cariados da fumaça proveniente da chupeta do cão, ia de uma orelha a outro. Ah, mas cada um é feliz ao seu modo...

Semanas depois passei a conhecer melhor o faxineiro, que de faxina não sabia nada. Apanhava uma bituca de cigarro e em seguida deixava quinze que fumava. Perto das biatas ele ainda dava uma escarrada que a bicha parecia mais lama de porco em chiqueiro de pobre. Descobri que o danado gostava mesmo da gaiatice, apesar dos milhares de cabelos brancos na cabeça e no bigode, faiado feito taba de pirulito. Quando Biró baixava pra pegar algo no chão deixava aparecer uma mardita cueca, sofrida que nem o Rio Pajeú que recebe diariamente uma tonelada de dejetos através de esgotos, sem levar em consideração o lixo jogado as suas margens. Acho que tá mais do que na hora de Valadares criar uma diretoria de Meio Ambiente, afinal a quem vamos reclamar? Mas deixa o Barão em paz, ele é sangue bom e sabe muito bem o que fazer. Ninguém melhor do que ele no Sertão do Pajeú para se blindar e argumentar... Agora faço com Zé Bozó, mostre!

Sempre que chega um Comandante num Batalhão desses no interior, os policiais ficam apreensivos quanto à forma de gerenciamento. Uns cobram demasiadamente e oferecem poucas condições a praçaiada, outros o fazem de forma diferenciada, ou seja, cobra operacionalidade, mas em contra partida oferecem condições, posso citar como exemplo o atual comandante do 14º Batalhão major Aragão. A tropa inteira gosta do seu trabalho. Certa feita havia se apresentado um novo comandante na OME em tela. O oficial acabara de ter deixado a Capital e nada conhecia no interior. Trouxe consigo aquele sotaque bem recifense e conversava no pátio interno do Batalhão com outro oficial. Preocupado com a dormida à noite o comandante perguntou a um Capitão:

- Aqui no sertão tem pernilongo?

O Capitão respondeu discretamente:

- Sim Coronel, sempre aparece.

Nisso, Biró tava apanhando lixo próximo aos dois oficiais e timbungou na conversa:

- Oxe, Coroné, aqui tem muriçoca feito à peste. Tem delas que a gente pega no achaprão, pra dizer (alçapão), outras a minineira mata de balieira pra comer com feijão no armoço. É cada uma que dar um paimo, outro dia uma me chupou quase dois litros de sangue quando eu estava cochilando no quarto de hora aqui no quartel, fui parar no hospital amarelo que nem catarro de tuberculoso.

Indignado porque o soldado interferiu na conversa, o Coronel falou:

- Soldado reconheça seu lugar, ninguém lhe chamou na conversa, recolha-se a sua insignificância!

Descabriado, Biró olhou para o Comandante e finalizou:

- Pois tá certo coroné, depois que as muriçocas carregarem o senhor com cama e tudo e lhe deixar aqui no pátio, o senhor não diga que foi falta de aviso. Outro dia elas carregaram uma geladeira só porque a bicha tinha um pedaço de figo de boi e vossa excelência sabe que figo cheira a sangue. Até hoje ninguém sabem onde tá a geladeirinha consul que gelava água pra nós. Outro dia um sordado disse que viu-la no aeroporto. Será que as bichas tem força coroné?

Sem saber o que dizer o Comandante olhou pra cá, pra lá e acabou dando uma risada. Já imaginou o camarada ouvir umas abobrinhas dessas e ficar sisudo? Nem o homem mais chato do planeta dos macacos escutava uma coisa dessa sem abrir a lata. Depois de 15 anos o pé inchado veio parar no causos e contos do Itamar França. Biró se reformou como 3º sargento e trabalha de mototaxista em Serra Talhada, na chamada viração da aposentadoria. O fato de fato aconteceu. Fui!!!!

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