segunda-feira, 26 de outubro de 2009

AMIZADES SEM PRIVACIDADE

Atividades comuns, seja em qualquer fase da vida, sempre fomentam amizades irrestritas.

Formei amizades inesquecíveis em banhos de rio, treinos de volei, pesquisas escolares, pescarias, treinos e competições de ciclismo.

São amizades sedimentadas em sentimentos desinteressados, amizades puras e simples, desconheço quem não as tenha.

Para Gilvan, Adelino e Zé Mago, o que mais os unia era a paixão pela caça, notadamente de aves de arribação em épocas próprias.

Como Zé Mago era solteiro e morava sozinho, nada mais natural que em sua casa fosse o depósito das espingardas e o canil dos valorosos cães de caça.

Contudo, não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe, e por força dessa máxima, Zé Mago um dia entrou para o rol dos homens casados.
É certo, e quem se casa descobre muito cedo, o casamento restringe a liberdade.

Se o solteiro que mora só peida e arrota despreocupado sem ninguém que perturbe sua doméstica solidão, o casado, e ainda mais o recém-casado, precisa tomar certos cuidados.

Zé Mago estava recém-casado, ou como se diz em Portugal "casado-de-fresco" e isso o afastou um pouco do contato diário com os companheiros, agora havia interesses mais interessantes que se arranhar e passar fome e sede nos meios dos matos para abater rolinhas um pouco mais graúdas e depois discutir na partilha do produto da caçada.

A coisa estava nesse pé quando chega aos ouvidos de Adelino e Gilvam a noticia de interminável bando de arribaçãs em Quitimbu - "não precisa nem atirar, é de pegar na tarrafa!" - foi assim que a noticia chegou no Bar de Tripa, onde ambos destilavam a ausência do companheiro.

Acontece que caçador é caçador, e uma notícia daquelas requer atitudes!
Assim, de imediato foram para a casa de Zé Mago em busca das espingardas e dos cachorros.

Lá chegando chamaram por Zé Mago e foram entrando, pois, a porta da frente estava apenas encostada, quando de repente ouvem o grito de Zé Mago lá dos fundos da alcova: NÃO ENTRA NÃO! NÃO ENTRA NÃO!

Pararam na sala da frente e viram surgir Zé Mago descabelado, se abotoando afobadamente.

-Tá doido Zé Mago? Indagou Adelino

- Doido nada, eu aqui nas minhas "privatizações" e vocês vão entrando de casa a dentro?

Por Gilberto Moura

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