sábado, 25 de abril de 2009

SOARES, HILDINHA E A CARNE DE BODE

Por Gilberto Moura

Quando o Soares, pernambucano de Palmares aportou pelas bandas do Pajeú como funcionário da CELPE era rapaz novo, doido para casar, ter família, um cobertor de orelhas para as noites frias e um chamego para as noites quentes. Estava cansado da curta solteirice, queria ser pai, chefe de família.

Nas andanças pela zona rural, por conta dos programas de eletrificação promovidos pelo Governo Arraes, teve a ventura de conhecer Hildinha, cabrocha faceira e cheia de predicados elogiáveis também doidinha pra casar e morar na cidade, ou dizem "na rua".

Foi juntar a fome com a vontade de comer e após breve namoro, saiu o casamento oficial, no juiz e no vigário seguidos de uma festança regada a cachaça e cerveja resfriada no tanque de água com areia com galinha de capoeira e arroz da terra.

Passados os festejos, o casal começa a vida em comum e finalmente chegou o dia tão esperado por Soares, ou seja, o primeiro sábado de casado, o dia de Soares fazer a primeira feira para a sua casa, o seu "lar doce lar" ou "home sweet home" como cantava Nat King Cole.

Hildinha ficou em casa, na limpeza e arrumação de sua "casa de verdade" tão diferente daquela casa de brinquedo com bonecas de pano e sabugo de milho que tinha na roça.

Soares caprichou nas compras, frutas, verduras, legumes variados e para arrematar, impressionar Hildinha, convencê-la definitivamente de que ele era realmente "o cara", comprou um enorme quarto de bode. E não era um quarto de bode qualquer, era traseiro, gordo, coisa linda! Ocorre que Soares, desde que chegou ao Sertão ficou viciado em carne de bode, de qualquer jeito, assado, ensopado, frito, se tivesse aquele cheirinho característico, era com ele mesmo!

Assim chegou Soares em casa, com aquela feira imensa e aquele quarto de bode maior ainda, pronto pra colher os elogios de Hildinha.

Quando Hildinha viu aquilo tudo em cima da mesa, disparou como um tiro no peito de Soares:

- Oxente Soares! E tu comprou foi bode?

Disse isso com um ar de repugnância tão grande que despertou os instintos mais sombrios de Soares, ferveu-lhe o sangue nas veias, logo ele, um chefe de famíia? Não merecia tanto desdém! Sentiu seu casamento tão promissor ir por água abaixo, todos os seus planos e sonhos serem abatidos por um quarto de bode tão lindo. Não era justo! Então, se recompôs da surpresa e devolveu:

- Olhe Hildinha, eu te conheci comendo preá e a partir de hoje nessa casa só entra carne de bode!

E assim foi, Soares passou dois anos comprando somente carne de bode até que ele mesmo enjoou e começou a variar, era galinha, porco, peru, cortes nobres de boi, peixes, até pato e marreco quando ele achava comprava, até que um dia Hildinha reclamou:

- Oxente Soares, nunca mais tu comprou um "bodin"?

(Essa historia me foi contada pelo próprio Soares, em conversas divertidíssimas no Bar de Tripa, seu "escritório" depois de aposentado da CELPE. Aposentadoria abreviada por um infarto fulminante, que deixou Afogados menos cordial e mais triste).

2 comentários:

Unknown disse...

Amei essa história!Afinal ele era meu pai e sua alegria faz falta.
obs: Painho era de LIMOEIRO!

Elzinha.

Unknown disse...

Tenho certeza que minha paixão por bode tem tudo haver com essa história,hehehe!Gostei muito do conto.


Risoleta N. Soares(Chamada por painho:Basuca)

 
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